quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Duas décadas de uma obra-prima

Onde você estava em setembro de 1993? Consegue lembrar-se de algo que tenha lhe marcado tanto? Como era o mundo há 20 anos? Perguntas difíceis de responder, mas há exatas duas décadas, o mundo recebia uma obra-prima composta por uma das bandas mais populares daquela época, o Nirvana. Naquele mês de setembro, entre o final do verão e início de outono no hemisfério norte, fim de inverno início de primavera no sul, onde está o Brasil, recebíamos em nossas lojas o novo disco, tão aguardado, "In Utero".
Claro que àquela época não tínhamos tanto dinheiro para sair comprando discos, eram tempos muito difíceis em nosso país, desemprego, recessão, inflação fora de controle, governo que tentava encontrar alguma saída para uma nação a beira da falência e com muitos jovens sem esperança no futuro que se tornava cada vez mais presente.
As dores de amor, da alma, as crises existenciais, tudo isso fazia parte do dia a dia de muitos adolescentes. A chegada do novo disco do Nirvana trazia algo que falava diretamente a grande parte dessas pessoas, pois era um disco 'sujo', agressivo, um grito de socorro com microfonia, guitarras distorcidas, vocais melancólicos e letras que falavam muito sobre sofrimento de várias espécies, entre espiritual e físico.
Foi com esse disco que muitos moleques da época passaram a entender o que era rock, que o Nirvana mostrou do que era capaz e de quanto a banda era boa. Brigas com gravadora, agentes, gravações feitas no melhor estilo de banda de garagem, álbum feito para "não vender". O título original seria um soco na cara de muitos "I hate myself i want to die" [eu me odeio e quero morrer], mostrava o quanto Kurt não estava nada satisfeito com sua fama e com o "zilhão" de cobranças que recebia. A gravadora barrou e depois de muitas reuniões chegaram ao título final "In Utero".
Não é necessário dizer que assim que chegou às lojas o álbum “tomou” de cara o primeiro posto nos mais vendidos e gerou muitos comentários entre críticos e fãs. As letras eram ainda mais ácidas do que as de "Nevermind" e "Bleach". Em uma delas, logo na primeira faixa, "Serve the Servants", ele cita: "a angústia adolescente deu bom lucro, agora fiquei chato e velho". O primeiro single do disco foi "Heart shaped box", onde ele afirma que "queria poder devorar seu câncer quando seu corpo ficasse roxo" e em outra parte grita "jogue para baixo seu cordão umbilical para que eu possa subir de volta".
A letra mais polêmica foi da quarta faixa, "Rape me" [Me estupre]. "Me estupre, me estupre meu amigo, me estupre, me estupre de novo, me odeie, faça e repita", cantava Kurt sobre melodia que tinha seu estilo de composição, guitarra limpa, suja, sussurros e gritos desesperados. Em outra faixa, "Francis Farmer will have her revenge on Seatle", o vocalista abre o refrão com "sinto falta do conforto de ficar triste".
Entre idas e vindas, entre o som brutal, nervoso, com vontade de destruir o mundo, há canções calmas, com pitadas de depressão e melancolia. Para resumir, em todo tom triste do álbum, dá para sentir que ele é tão bom quanto os outros, ou até melhor, depende de como você está no dia em que o coloca para ouvir. Neste mês, esta obra completa duas décadas, e ele soa tão atual como poucos, pois a angústia e a revolta fazem parte da natureza humana, goste você ou não.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Grande Ogro apenas no nome

Arquivo Pessoal
Banda paulistana formada há dois anos, faz som instrumental e esbanja qualidade musical no primeiro EP lançado recentemente. Para conhecer mais sobre esta banda, que promete no cenário independente, o Canibal Vegetariano falou com os caras sobre influências, espaço para música própria e outros assuntos.

Canibal Vegetariano: Por que O Grande Ogro?
O Grande Ogro: A referência vem de um disco "El gran orgro"(At the Drive-in), pois queremos fazer um som pesado e nome como a banda veio a calhar muito bem, traduzimos e deixamos em português.

CV: Como foi formada a banda e há quanto tempos estão juntos? Houve mudanças na formação?
GG: Com a saída de integrante de uma outra banda, mais necessidade que sempre tínhamos de tocar, tivemos uma outra formação inicial mas era só a ideia. Com a participação de Jackson, passamos a ser "O Grande Ogro". Temos dois anos de vida com a mesma formação.

CV: Quais são as principais influências da banda?
GG: Cada um tem suas banda preferidas ou gosta de uma e de outra banda, pode ser no rock ou não, definir isso é difícil, chegar e falar que temos uma principal influência é como limitar o pensamento, é como se limitar para criação e para vida, mas no geral em um senso comum.

CV: Por que optaram pelo som instrumental?
GG: Podemos explorar mais musicalmente sem nos preocuparmos em seguir um vocal um frontmam. Ter essa ruptura do normal, algo que sempre os seres mais comuns esperam, fazer a música se tornar mais abstrata, pesada, suja, subversiva, minimalista, com contra tempo.

CV: O som de vocês tem ‘peso’. Quais são os espaços nos quais se apresentam?
GG: Sim, sempre pensamos no peso, deixar denso, como dito na outra pergunta acima, minimalista, etc. Tocamos na rua e em uma calçada, em estação de trem, fornecido pelo estado, o espaço, casa de show ou não, praças públicas, na garagem do Jackson, etc. Onde chamarem, tocamos, desde que todos da banda concordem.
Arquivo Pessoal

CV: Como é o trabalho de composição?
GG: Conversas, ideias, tudo que venha a mente e possa ser traduzido em sonoridade, a junção de pensamento, ideias são expostas e trabalhadas em conjunto, nos reunimos em ensaios com a banda completa e algumas vezes fazemos só as cordas, para ter algo mais concreto na hora de ir para o estúdio ensaiar,uma base é colocada e daí vão surgindo as ideias, é isso. Ou chega com uma ideia ou frase, no caso das cordas a gente quebra e muda tudo, ou não, pode ser uma ideia única e muito boa que só acrescentamos algumas coisas, mas é bem demorado em muitas das vezes...

CV: Qual o melhor momento da banda até o momento e o pior?
GG: Melhor momento sempre depois que um show é bom.

CV: Qual show marcou a banda?
GG: Que tocamos na calçada no extremo leste de São Paulo, fizemos com uma banda amiga o Discrepante, toda banda devia adotar isso.

Arquivo Pessoal

CV: Discos, vocês já lançaram quantos? Quais os planos para o futuro?
GG: Disco nenhum, temos um EP só que é em CD que estamos fazendo a distribuição dele da nossa forma e com as nossas condições, pois não temos patrocinadores e nem gravadora, fazemos por nós mesmos. O futuro é estar na mesma pegada de ensaios e por em práticas as ideias, fazer nosso trabalho e deixar o som, tocar em mais lugares, comer solto…

CV: Deixo espaço para considerações finais, abraço!
GG: Vá aos nossos shows, conheçam O Grande Ogro, escutem mais músicas feitas por bandas nacionais. Saia do mundo virtual e conheça o real! E leia muito, isso vai te ajudar bastante.

http://ograndeogro.wix.com/ograndeogro
http://www.facebook.com/pages/O-Grande-Ogro/238454302886593?ref=ts&fref=ts

domingo, 8 de setembro de 2013

O grito da independência

Canibal Vegetariano
Dia da Independência do Brasil, 7 de setembro, e, no Bar do Celso, quem deu as cartas foi o rock independente. Uma das bandas mais antigas de Itatiba comemora 10 anos e o bar foi escolhido para um show especial, apresentação do novo vocalista, Rodrigo Garcia e apresentações de bandas como Cadillac Rosa e Oskar Face. Brazilian Cajuns, de Londrina, estava programada mas devido a morte do avô de três integrantes da banda, eles cancelaram a apresentação.
                Devido aos compromissos profissionais, a galera do Canibal Vegetariano chegou atrasada à apresentação e perdeu o show da Oskar Face, mas quem viu disse que os paulistanos mandam muito bem no ska.
Canibal Vegetariano
                A galera chegou no início da apresentação dos itatibenses da The Bebers Operários. Como há muito não via a banda, a curiosidade era imensa, pois eles estavam com novo vocalista. E a apresentação dos caras fez jus ao aniversário de 10 anos. Street punk no talo, com duas guitarras ‘dialogando’ em boa frequência e o novo vocalista manda bem e segurou a onda. Entre as canções, velhas conhecidas e eles ainda mandaram uma homenagem aos Garotos Podres, com Anarquia Oi!.
                
Canibal Vegetariano
Após pancadaria do Bebers, foi à vez do rockabilly do Cadillac Rosa. Os rapazes de Porto Ferreira rodaram muito mas fizeram uma apresentação antológica no Bar do Celso. Com várias pessoas a caráter, estilo anos 50, do século passado, a banda fez todo mundo dançar, inclusive quem estava atrás do balcão. Com a ausência da Brazilian Cajuns, eles tiveram mais tempo e homenagearam os amigos paranaenses com a música “depois daquele tiro”.
                Depois de muitas horas de rock, o que restou foi voltar para casa e saber que ainda há esperanças para novas bandas e para quem acredita na independência do rock, pois a do Brasil é cada dia mais difícil.